


Talvez o tema mais relevante atualmente no cenário marítimo internacional sejam as alternativas que substituirão os combustíveis fósseis, utilizados pela frota mundial em operação e pelos novos navios em construção. Os países discutem quais seriam esses novos combustíveis e a escolha afeta os portos do mundo, incluídos os brasileiros. Porém, a indefinição sobre as alternativas não permite que as instalações portuárias se antecipem na preparação para receber navios que utilizem esses novos combustíveis.
Mas em transição energética, os portos brasileiros, principalmente os terminais de uso privado (TUPs), não estão parados. A matriz elétrica brasileira já tem um percentual elevadíssimo de energia renovável, mais de 90%, segundo a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica. Esse número é significativamente superior à média mundial, de 30%.
O contexto energético brasileiro e as adaptações da infraestrutura para reduzir as emissões geradas pelo próprio funcionamento dos terminais, ou seja, alterações no escopo 1 de emissões, por meio da eletrificação de equipamentos portuários, tais como guindastes, terminal tractors, RTG, colocam os portos do País em posição muito mais eficaz na redução de emissões, quando comparados a outros portos no mundo. Em alguns casos, esses portos buscam a neutralidade de carbono eletrificando os equipamentos. Porém, como não contam com uma matriz energética predominantemente renovável, acabam sendo um caso clássico de "trocar seis por meia dúzia".
Os TUPs estão investindo muito em eletrificação de seus equipamentos no Brasil e, além disso, em geração própria de energia renovável. Também investem na otimização da operação portuária, visando reduzir o tempo de espera dos navios em áreas de fundeio, o que gera muita emissão de gases de efeito estufa (GEE). Um outro investimento que está em análise é o de fornecimento de energia elétrica ao navio atracado, que também contribuirá para a redução das emissões.
Mas, além disso, há novas iniciativas de alguns portos privados que, aproveitando o posicionamento geográfico, as condições climáticas favoráveis e áreas disponíveis para instalação de complexos industriais, estão transformando o ônus da transição energética em grandes oportunidades de novos negócios com a implantação da indústria de energia de baixo carbono. São exemplos o Porto do Açu (RJ), Porto de Pecém (CE), Porto de Piauí, e diversos outros projetos de TUPs.
Estamos vendo iniciativas para a produção de hidrogênio verde, amônia verde e outros produtos. O Brasil pode se tornar referência mundial em produção de energia verde, para exportação e para uso interno. Temos plena condição de transformar o impacto da transição energética em um mar de oportunidades.
Murillo Barbosa é Diretor Presidente da ATP – Associação de Terminais Portuários Privados.
Artigo publicado dia 15/03/25, no jornal A Tribuna.