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    Melhoria nos acessos e avanço tecnológico estão entre as prioridades para 2025

    Diante do constante aumento da demanda no setor, especialistas anseiam por obras de infraestrutura e segurança jurídica para aumentar eficiência e competitividade.

    O crescimento significativo na movimentação de cargas pelos portos brasileiros tem levado o poder público e as empresas a desenvolverem um planejamento estratégico minucioso, de forma que os complexos estejam prontos para atender à demanda. O Porto de Santos, o maior da América do Sul, por exemplo, movimentou 153 milhões de toneladas de janeiro a outubro do ano passado, alta de 7,7% em relação ao período anterior. Diante do cenário, promover a melhoria da infraestrutura de acesso, investir em tecnologia e realizar leilões de áreas para novos terminais estão entre os anseios para 2025. Essa, inclusive, foi a mensagem deixada pelo ministro dos Portos e Aeroportos, Silvio da Costa Filho, no final de 2024: que os empreendimentos portuários sejam motores de desenvolvimento, criando empregos, fortalecendo a economia e levando oportunidades a todas as regiões do país.

    Em novembro, o Ministério lançou um plano para o setor com estimativa de R$ 20 bilhões a serem aplicados até 2026. O montante inclui uma carteira com 55 empreendimentos, entre arrendamentos e concessões, além de uma cartilha de financiamento para projetos do segmento. O objetivo é promover a modernização e a eficiência dos portos, aumentando a competitividade. Ainda neste semestre, há a previsão de serem leiloadas áreas em Paranaguá (PR), Santos (SP) e Rio de Janeiro (RJ).

    "Em termos de Brasil, eu diria que o foco principal deve ser sempre a melhoria das infraestruturas de acesso, tanto o aquaviário como o rodoviário, aos portos. A implantação de novos trechos de hidrovias, em especial no Norte, é também prioridade. No caso do porto de Santos, a duplicação ou mesmo triplicação do trecho de baixada da Via Anchieta está atrasado há décadas, sendo esse o principal gargalo de acesso ao porto", destaca o especialista sênior em portos, diretor da V2PA Engenharia e Consultoria, Marcos Vendramini.

    Ele também aponta a tecnologia e a sustentabilidade como importantes aliadas no processo, cada uma com a sua relevância. Vale lembrar que ambos estão inseridos no projeto Agenda 2030 portuária, cujas ações estão relacionadas aos 17 ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) da ONU. "Eu diria que mais a tecnologia no sentido de proporcionar maior controle, rastreabilidade e redução da mão de obra e um pouco mais atrás a sustentabilidade, pois analisando de modo pragmático, é uma bandeira bonita enquanto a conta dela não chega nos países desenvolvidos. Ela demanda modificações de grande porte, sobretudo no setor energético", diz.

    A multimodalidade é outro assunto que segue sob os holofotes do mercado, menciona Vendramini. O foco seria, sobretudo, na implementação/ampliação das hidrovias, já que o setor ferroviário parece ter uma agenda bem firme de desenvolvimento. No entanto, quando se trata de Santos, o especialista não observa a hidrovia como vantajosa, seja pelo "tombo" a mais nas cargas ou também pelo descompromisso do setor público em fomentá-las com ações que já poderiam ter sido tomadas. "Uma delas é a elevação do gabarito das pontes rodoviárias e ferroviária sobre o Rio Casqueiro, que permitiria o uso da área de São Vicente como retroárea. Recentemente a rodovia Anchieta passou por obras naquele trecho sem que qualquer iniciativa tenha sido sequer considerada/discutida", explicou.

    Ao olhar para o setor portuário de forma geral e acompanhar as mudanças rumo ao crescimento, Vendramini analisa o segmento como muito mais imune à política e à economia mundiais do que a grande maioria dos demais blocos da economia. "Com o dólar alto, exporta-se mais e com o dólar baixo importa-se mais, ou seja, sempre haverá um lado da balança sendo favorecido em tempo de crise, sem contar que nossa matriz de comércio exterior portuário, apesar de baseada em commodities, possui um peso expressivo nas mercadorias agrícolas, ou seja, mesmo em tempo de crise mundial, é sempre a última demanda a ser reduzida".

    O presidente da Associação dos Terminais Privados (ATP), Murillo Barbosa, afirma que em 2025 esse tipo de empreendimento promete consolidar ainda mais o seu papel como protagonista do setor, sustentado por investimentos robustos e projetos estratégicos em desenvolvimento. Segundo ele, hoje, 18 terminais que já passaram por audiências públicas, aguardam apenas a formalização dos contratos de adesão ou dos termos aditivos para iniciar ou ampliar suas operações, representando mais de R$ 33 bilhões em verbas.

    "Além disso, diversos terminais autorizados estão em fase avançada de obras, com perspectivas de iniciar operações ainda este ano. Um exemplo é o Terminal de Granéis de Santa Catarina, localizado em São Francisco do Sul, que já possui mais de 80% de sua construção concluída e se prepara para movimentar grandes volumes de granéis sólidos, contribuindo para a otimização logística e o aumento da competitividade das exportações brasileiras", ressalta Barbosa.

    Outra previsão apontada pelo presidente da ATP é o terminal Imetame Logística Porto (ES), para o primeiro semestre de 2026. Em sua fase inicial, o complexo terá profundidade de 17 metros e capacidade para movimentar 300 mil contêineres por ano. Mais adiante, serão 25 metros, o suficiente para receber os maiores navios do planeta. Já a operação de caixas metálicas poderá chegar a 1 milhão/ano. O projeto completo demandará em torno de R$ 3 bilhões.

    Em relação às prioridades para 2025, Barbosa detalha obras nos acessos, tanto terrestres quanto aquaviários. No acesso ferroviário, a implementação da EF-118 é vista como estratégica, integrando o sistema ferroviário nacional e viabilizando a entrada no Porto do Açu, maior complexo portuário privado do Brasil e peça-chave nos projetos de transição energética. Há ainda o Porto Central, cuja construção está sendo iniciada. Na Região Norte, a finalização da BR-163, com a construção dos ramais portuários, prevista em contrato, é considerada crucial para conectar os terminais de Miritituba, Santarenzinho e Itapacura, fortalecendo o escoamento do agronegócio e a navegação interior. E não para por aí.

    No Nordeste, Barbosa entende como fundamentais as melhorias nas BR-242, BA-526 e BA-528 para o escoamento de granéis na Bahia. Já a Região Sul, onde Santa Catarina se destaca como o segundo maior estado em movimentação de contêineres, os terminais da Portonave e o Porto Itapoá enfrentam desafios significativos em seus acessos rodoviários.

    "É urgente reavaliar as prioridades para as rodovias BR-470, Autopista Litoral Sul e o trecho que conecta o Contorno Sul de Garuva a SC-417, passando pelo entroncamento com a SC-416 e a Estrada Municipal José Alves, para garantir que esses portos tenham o suporte necessário para continuar crescendo. As autoridades portuárias também precisam investir em dragagem, sinalização e balizamento, atividades básicas frequentemente negligenciadas. Essas ações são fundamentais para a competitividade e sustentabilidade do setor portuário privado.

    A análise foi corroborada pelo presidente da Federação do Estado de Santa Catarina (Fiesc), Mário Cezar de Aguiar, durante live realizada em dezembro. Ele reforçou a importância da infraestrutura para o transporte do que é produzido no estado catarinense, reiterando a relevância das rodovias. "Você pode comprar o melhor equipamento, treinar a mão de obra de maneira excepcional, mas se você tiver custo logístico fora da curva, perderá competitividade. Então a logística será um fator determinante para fixar a indústria." Aguiar falou ainda que em 2025 a perspectiva é de um cenário externo mais desafiador, com o aumento dos conflitos no Oriente Médio e a situação na Ucrânia afetando o ambiente geopolítico. Soma-se a isso uma conjuntura complexa para o comércio internacional, com China e Estados Unidos lançando mão de políticas protecionistas. "Santa Catarina até poderá se beneficiar, mas ainda é cedo para avaliar quais as efetivas oportunidades para as indústrias do estado", avalia.

    Outro tema, que também deve ganhar destaque nos próximos meses, na visão do presidente da ATP, é a necessidade de repensar as formas de financiamento. Ele lembra que o setor enfrenta altas demandas em infraestrutura, além de projetos de grande envergadura e a constante necessidade de adquirir novos equipamentos e tecnologias para acompanhar padrões globais. "Apesar dessas necessidades, a falta de mecanismos de financiamento robustos e estratégias eficazes para atrair investidores tem se mostrado um desafio crítico. É essencial criar condições que ofereçam maior segurança ao mercado, seja por meio de políticas públicas consistentes, garantias adequadas ou incentivos fiscais que estimulem o capital privado."

    CAPITAL HUMANO

    O investimento em capital humano também faz parte dos pilares de desenvolvimento do setor, onde, nos últimos anos, a tecnologia tem transformado os equipamentos de movimentação e os sistemas de gerenciamento de informações. Vale lembrar que nessa área, cada emprego direto corresponde de 5 a 6 indiretos.

    "As pessoas são o ponto central que move a revolução dos processos de trabalho. Por isso, geri-las adequadamente é o fator de sucesso. Ao contrário da maioria das tecnologias que já vêm (quase) prontas para serem usadas, não existe um 'supermercado de pessoas', onde as encontramos prontas, com todas as competências técnicas e comportamentais prontas para serem usadas de imediato. É preciso formá-las", explicou o consultor em Gestão de Pessoas e Estratégia Empresarial, Hudson Carvalho.

    Segundo ele, isso já seria desafiador em um ambiente intenso, que funciona 24/7. Hoje é ainda mais, dada a necessidade de equilibrar trabalho com qualidade de vida. Então, destaca Carvalho, se espera que o perfil das pessoas do segmento portuário inclua resiliência, para começar, não só porque suportam pressão, mas por serem capazes de aprender e desenvolver-se nesse ambiente. Além disso, devem ter duas outras competências comportamentais: capacidade de resolver (rapidamente) problemas e de trabalhar em equipe.

    "Falamos sempre que são as pessoas que movem as organizações. É verdade. Mas elas o fazem através de processos. Ainda é pequena a atenção que damos a eles e isso deve forçosamente mudar em 2025. Quanto mais bem planejados eles forem, melhores serão os resultados", afirma o consultor, que tem uma carreira de 16 anos como executivo em grandes empresas do setor portuário.

    A sua experiência o leva a crer que o maior investimento para que os portos possam atender à demanda futura deve ser no desenvolvimento das pessoas. Ele explica que atualmente é preciso colocar recursos em um ambiente de trabalho adequado, onde haja equilíbrio entre o profissional e a vida pessoal, em que os líderes saibam evitar o assédio de todas as naturezas. "Além das pessoas, as organizações precisam rever seus investimentos em alternativas energéticas, em políticas sociais, de respeito ao meio ambiente e mais do que tudo, em regras de governança que funcionem de verdade. Sem elas, todo o resto está comprometido."

    EMPRESAS

    Na Brasil Terminal Portuário (BTP), o olhar está voltado ao aumento da capacidade operacional para atender à forte movimentação de cargas conteinerizadas. Para isso, 2025 será marcado pelo início das operações de dois novos portêineres (Ship To Shore), que elevarão a capacidade de cais do terminal para 10 equipamentos. O foco da companhia também estará no andamento dos projetos contemplados no pacote de investimentos de R$ 1,9 bilhão, compromissado pela BTP com o governo federal. O ESG é outro tema que integra o planejamento, sendo um pilar fundamental para o futuro dos negócios, tornando-os mais competitivos, preparados para as demandas do futuro e mais atrativos para investidores.

    "Atualmente, a capacidade operacional, em Santos, já ultrapassa as bases indicadas pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), que indica um nível entre 65-70% da capacidade total instalada. Com a economia mundial e a brasileira crescendo, principalmente com os recordes de exportações de commodities, há a necessidade de mais e novos investimentos em todo o setor portuário, especialmente no Porto de Santos", enfatiza o diretor de Operações da BTP, Ricardo Trotti, que também concorda ser fundamental o setor ter segurança jurídica e previsibilidade regulatória.

    "Especificamente para 2025, é importante destravar projetos como o túnel imerso entre Santos e Guarujá e a solução definitiva para a dragagem do canal de navegação para 17 metros. Além disso, há expectativa positiva para que se aprove, em projeto de lei, o texto elaborado pela Comissão de Juristas que se propõe a revisar a atual legislação portuária", complementa.

     

    Matéria da revista Informativo dos Portos, publicada em fevereiro de 2025.

     

    Publicado em 05/02/2025
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